MULHERES NO PODER: Sobre representatividade e as políticas voltadas para os direitos da mulher
- Polyana Amorim
- 2 de fev. de 2023
- 5 min de leitura
A história da participação das mulheres na política é marcada por diversos momentos que representam conquistas importantes, desde o direito ao voto até o direito de participar de uma eleição como candidata.

UPAON AÇU- No entanto, a representatividade feminina no legislativo e executivo ainda se mostra pequena quando avaliamos todo o contexto eleitoral. As mulheres são a maioria da população brasileira, segundo IBGE, e, ainda assim, são as que menos são representadas politicamente. Conforme pesquisa do Inter-Parliamentary Union, na América Latina, o Brasil é o terceiro país com menor percentual de representatividade feminina na política. Não à toa, só em 2016, o Plenário do Senado teve um banheiro destinado ao público feminino, desde sua inauguração, em 1960. O prédio passou 55 anos tendo apenas banheiro masculino.
Mas apenas eleger mulheres basta? Qual o nível de atuação das poucas mulheres eleitas? Que pautas elas defendem e conseguem aprovar durante seus mandatos?
O QUE A LEI TEM GARANTIDO ÀS MULHERES?
O primeiro passo à participação política das mulheres foi dado em 1932 com o Código Eleitoral, autorizando o voto feminino em todo o Brasil. As brasileiras, então, puderam votar e ser votadas. E foi no Rio Grande do Norte, primeiro estado a reconhecer os direitos da mulher ao voto, que uma mulher venceu pela primeira vez uma eleição: Alzira Soriano foi eleita prefeita no município de Lages.
De lá pra cá, outras lutas foram gradativamente vencidas. Atualmente, vigora no país, a lei 12.034, de 2009, que garante um percentual de, no mínimo, 30% e máximo 70% para representação por gênero, uma tentativa de promover equidade nas candidaturas para eleições gerais e municipais. A lei ainda destina, minimamente, 30% dos recursos partidários ao financiamento das campanhas e do tempo de tv e rádio.
Em 2021, foi aprovada uma reforma eleitoral por meio da Emenda Constitucional nº 111, que visa ampliar a participação feminina e negra nos processos eleitorais. A referida emenda , em seu artigo 2º, determina que “para fins de distribuição entre os partidos políticos dos recursos do fundo partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), os votos dados a candidatas mulheres ou a candidatos negros para a Câmara dos Deputados nas eleições realizadas de 2022 a 2030 serão contados em dobro”.
COMO TEM SIDO A CANDIDATURA DE MULHERES NA POLÍTICA BRASILEIRA?
Noventa anos depois da primeira legislação favorável à eleição de mulheres, o que vemos na prática é pouca representatividade. Um dos entraves a essa real representação são as candidaturas laranjas, assim denominadas para definir mulheres que se candidatam para cumprir as cotas determinadas na lei, mas que não se lançam na disputa por cargos. Essa estratégia vem sendo coibida pelo TSE que anula candidaturas e até a chapa inteira caso haja comprovação de que se trata de uma candidata laranja.
Além disso, muitos partidos não estimulam a candidatura feminina em seus núcleos; sem incentivo, as mulheres ficam distantes de ocupar cargos políticos. As leis, por si só, não garantem maior representatividade feminina, é preciso haver fiscalização e conscientização.
Para se ter ideia, em 2018, tivemos 23,8% candidaturas femininas eleitas totais, das quais cinco foram vice-governadoras, e seis foram eleitas ao senado, de um universo de 53 vagas. para o cargo de deputada estadual, tivemos 136 mulheres eleitas em todo o Brasil para 738 homens; já no campo federal, foram 55 mulheres e 332 homens.

No Maranhão, das 37 vagas para estadual, apenas 8 foram ocupadas por mulheres, em 2018; no âmbito federal não houve mulheres eleitas. Os dados são da plataforma do TSE.
Em 2022, com a vigência da emenda constitucional, os dados foram mais exitosos, mas ainda representam um abismo na presença de homens e mulheres na câmara e na assembleia legislativa. No Maranhão, tivemos três deputadas federais eleitas, de um total de 18 vagas; entre os deputados estaduais, tivemos 12 mulheres eleitas de um total de 42 vagas. Não houve mulheres eleitas para senado ou governo do estado.
Ao todo, no Brasil, em 2022, foram eleitos 302 mulheres e 1394 homens, considerando os cargos das eleições gerais (deputado federal, estadual, senado e governo estadual), ainda conforme dados do TSE.
A ATUAÇÃO DA BANCADA FEMININA
Dentro do pequeno universo de mulheres eleitas, outro embate é colocado: as mulheres eleitas estão votando a favor de pautas e causas femininas? Segundo pesquisa da plataforma Elas no Congresso, idealizada pela Revista AzMina, as mulheres também atuam de forma desfavorável às pautas de garantias dos direitos da mulher.

Em linhas gerais, o ranking mostra a performance de mulheres eleitas e em quais frentes de atuação elas trabalham. A pesquisa mostra, por exemplo, que a deputada Erika Kokay (PT-DF) é a mais engajada nas pautas femininas, tendo proposto 27 projetos de lei, em sua legislatura de 2018 - 2022, para temas que abordam o combate à violência contra a mulhertrabalho, economia e saúde.

De outro lado, o ranking aponta uma mulher também como a que mais propôs projetos desfavoráveis aos direitos da mulher: a deputada Cris Tonietto (PL-RJ). Ela foi autora de 20 projetos que versavam sobre aborto, maternidade, direitos sexuais e reprodutivos.
No panorama maranhense, não temos dados dessa natureza, uma vez que o estado não elegeu nenhuma mulher nas eleições 2018 para a câmara federal.
Já no Senado, nossa representante Eliziane Gama (Cidadania-MA) apresentou 4 propostas favoráveis e uma desfavorável, ficando em 21º lugar no ranking nacional. Conforme a plataforma, a proposta desfavorável de Eliziane, PL 2633/2019, (que atualmente se encontra em consulta pública on line) “limita o recebimento da pensão especial para famílias afetadas por zika, impedindo que o benefício seja recebido junto a outros auxílios sociais”
No geral, segundo a Revista AzMina, 1 em 4 projetos de lei propostos no Congresso é desfavorável aos direitos das mulheres. Isso retrata o perfil dos homens e mulheres eleitos, em sua maioria, conservadores. Ainda segundo AzMina, em 2018 tivemos a maior bancada feminina conservadora, desde 1964, e o cenário segue igual para a legislatura de 2023.
BANCADA FEMININA NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO MARANHÃO
Um levantamento do Brasil de Fato indica que o Brasil elegeu, em 2022, “92 mulheres para a Câmara federal, sendo 35 do espectro de esquerda, 39 deputadas do centrão, aliadas às pautas da extrema direita e 18 deputadas do centro-direita ”.
No Maranhão, tanto a deputada federal (Detinha) quanto a estadual (Fabiana Villar), mais votadas neste pleito, pertencem ao PL, de viés conservador
A bancada feminina maranhense (GESTÃO 2018 - 2022) é composta por 10 mulheres, representando pouco menos de 25% do legislativo estadual.
A título de realizar um panorama da atuação destas candidatas em pautas femininas, fizemos uma busca no campo matérias legislativas (ML) para cada uma das citadas acima, com filtro para o assunto MULHER*, sem precisar ano ou tipo de tramitação, a partir do qual tivemos os seguintes resultados:
* Optamos por usar esse termo na busca por ser mais amplo, podendo ser rastreado em outros como “saúde da mulher”, “violência contra a mulher”, por exemplo.
**O programa Carreta Da Mulher, bastante mencionado nas ML das deputadas, consiste na disponibilidade de unidades móveis que percorrem os municípios do estado, ofertando serviços básicos de saúde para a mulher, como: exame preventivo de câncer do colo de útero (papanicolau); exame do diagnóstico do câncer de mama (mamografia); vacinação; teste rápido de HIV e palestras educativas.
Vale destacar que em uma busca, sem precisar o nome do deputado(a), aparecem 1311 ocorrências de ML para o assunto MULHER, no período correspondente ao mandato de 2018, destes, 230 são de autoria das deputadas acima relacionadas.
COMO FORTALECER A REPRESENTATIVIDADE FEMININA

Como vimos, não basta eleger mulheres. É preciso eleger mulheres engajadas nas pautas e garantias dos direitos das mulheres. Cabe ao TSE fortalecer as políticas afirmativas de participação feminina nas candidaturas e cabe ao eleitorado buscar representantes que tenham atuação de base nas comunidades, junto às mulheres, com propostas favoráveis e relevantes às demandas do público feminino.

























