Estratégia ou fuga? Candidatos bem colocados nas pesquisas se ausentam dos debates
- Djina Torres
- 14 de out. de 2022
- 4 min de leitura
De acordo com o código eleitoral, apesar dos debates fazerem parte do processo democrático, não há obrigação legal de comparecimento dos candidatos aos encontros. Porém, o não comparecimento pode gerar perdas significativas para a população e para o processo

UPAON AÇU- O primeiro turno das eleições já está chegando e parte dos cinco debates oficiais com os candidatos à presidência da República foi cancelada pelas emissoras por falta de confirmação dos dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas: Lula (PT), ex-presidente; e Jair Bolsonaro (PL), atual presidente. Segundo Wilson José Ferreira de Oliveira, professor doutor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e pesquisador do Laboratório de Estudos do Poder e da Politica (LEPP/UFS), do Núcleo de Antropologia da Política (NuAP) do Museu Nacional, e do Observatório de Elites Políticas e Sociais do Brasil/UFPR, a ausência de alguns candidatos nos debates televisionados não é novidade.

"Desde o início, com a redemocratização do Brasil, tem sido uma prática recorrente, ou seja, aqueles que estão bem posicionados nas pesquisas tendem a não querer se submeter a um desgaste de imagem que pode ser um debate. Ao longo da campanha ou do programa político, o que é falado é mais controlado pelo candidato e sua equipe. Já os debates têm um teor mais constrangedor, sobretudo para os que estão melhores posicionados, já que a tendência é desgastar a imagem deles. Por isso, evitam."
Uma ausência sempre presente
Além de Lula e Bolsonaro, ao longo das cinco últimas eleições para presidente, os candidatos que estavam em primeiro lugar nas pesquisas tendiam a ignorar os debates. Assim aconteceu, por exemplo, com Fernando Collor (PRN) em 1989, e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no primeiro turno das duas eleições – 1994 e 1998. Neste último, inclusive, não houve debates televisionados no primeiro turno, tamanho era o desafio em fazer comparecer os candidatos. O próprio Lula, atual candidato, não compareceu a debates no primeiro turno em 2006, e Bolsonaro não compareceu a qualquer debate em 2018. A única candidata posteriormente eleita que compareceu a quase todos os debates foi Dilma Roussef (PT).

De acordo com o código eleitoral, apesar dos debates fazerem parte do processo democrático, não há obrigação legal de comparecimento dos candidatos aos encontros. Porém, o não comparecimento pode gerar perdas significativas para a população e para o processo.
“O não comparecimento dos candidatos aos debates promovidos pela grande mídia dão certo prejuízo à sociedade, pois é o momento em que a população quer ver os candidatos enfrentando contestações, oposições, perguntas que muitas vezes apontam dados falsos e eles têm a possibilidade de rebater, de discutir e mostrar ao público. Acho também que esse fenômeno tem a ver com o fato de que atualmente temos uma série de outros canais disponíveis para contestar fatos, políticos, informações ou até mesmo as Fake News que circulam nas redes sociais. Como eu disse anteriormente, a ausência não é incomum, mas pode ser prejudicial ao processo eleitoral como um todo”, pontuou o professor Wilson de Oliveira.
Em países como os Estados Unidos, os debates passam por uma comissão criteriosa de organização, elaboração de questões e escolha de moderação, com o intuito de preservar os encontros, que são considerados pela população como política e culturalmente importantes. Porém, no Brasil, uma das teorias que pode justificar a ausência dos candidatos como uma estratégia política é a do capital da credibilidade: quando o candidato se esquiva do debate para que possa manter a imagem de controle emocional, além de evitar situações constrangedoras e embaraçosas que possam prejudicar a sua credibilidade política. Além disso, as redes sociais desempenham um papel relevante na difusão da informação – e também da desinformação, uma vez que fica mais difícil controlar e checar toda a produção de notícias que circula em diferentes plataformas e páginas na internet, sendo um instrumento de poder para as campanhas.
Mas, e o que pensam os candidatos?
A nossa equipe entrou em contato com a assessoria de comunicação de todos os candidatos e de todas as candidatas à presidência e, até o fechamento da matéria, somente a candidata Sofia Manzano (PCB) respondeu sobre a ausência dos candidatos nos debates televisionados.

"A participação nos debates é fundamental não só pela visibilidade junto à população brasileira e à classe trabalhadora, mas principalmente para confrontar os demais candidatos que não tem um programa concreto e real para resolver os problemas da população brasileira. A exclusão das candidaturas realmente de esquerda e principalmente da esquerda revolucionária dos debates é a amostra mais evidente do que é a estreita democracia brasileira. De fato, nós não temos uma democracia, nós temos uma simulação de democracia que impede que aqueles e aquelas candidatas que realmente representam os interesses da classe trabalhadora tenham o mínimo de igualdade na participação midiática, como nos debates, na cobertura jornalística, no tempo de televisão e inclusive, no nosso caso, na liberação do fundo eleitoral, que até o momento não foi liberado."
E no cenário estadual?
E não é só entre os presidenciáveis que a ausência nos debates acontece. No estado do Maranhão, a disputa pelo Governo conta com nove candidaturas e algumas faltas nos encontros televisionados. Carlos Brandão (PSB), Edivaldo Holanda Junior (PSD), Enilton Rodrigues (PSOL), Frankle Costa (PCB), Hertz Dias (PSTU), Joás Moraes (Democracia Cristã), Lahesio Bonfim (PSC), Simplício Araújo (Solidariedade) e Weverton Rocha (PDT) foram contatados por nossa redação para responder sobre o que eles acham da ausência de candidatos nos debates, a importância do embate com outros candidatos e propostas e quais as estratégias adotadas por eles para conquistar o eleitorado maranhense.
Somente os candidatos Enilton Rodrigues (PSOL), Hertz Dias (PSTU), Lahesio Bonfim (PSC) e Simplício Araújo (Solidariedade) responderam à nossa entrevista. Confira as respostas dos candidatos:
O que o candidato acha sobre a ausência de outros candidatos nos debates eleitorais?
Qual é a importância dos debates eleitorais para o candidato?
Quais são as estratégias que o candidato acha relevantes para apresentar as propostas à população e conseguir votos?
Na festa da democracia, nem todos os convidados comparecem, mas os registros e diálogos fomentados a partir dos debates proporcionados pelos meios de comunicação ainda são uma forma de alcance expressivo para a população brasileira. O que muitos apresentam como estratégia de proteção, pode transitar para o que outros consideram uma fuga para não responder o que não lhe convém. De qualquer forma, o voto ainda é obrigatório, porém o comparecimento aos debates, não.













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