Lindevania Martins
É prosadora, poeta e defensora pública com atuação no Núcleo
de Defesa da Mulher e População LGBT.
Upaon Açu - Em 1987, Paulo Leminski publicou um livro com um título interessante: “Distraídos venceremos”. Uma peça de fina ironia alertando sobre a necessidade de estamos atentos ao mundo que nos rodeia.
A recusa e o desinteresse na política que muitos hoje professam é fruto de uma cegueira
que impede de ver o quanto nossas vidas são perpassadas por decisões políticas o tempo
todo. Políticas econômicas, sociais, criminais, culturais, de saúde.
A pandemia que vivemos explicita bem tudo isso. Em um momento tão crítico, precisamos
que líderes governamentais tomassem decisões que afetariam o cotidiano de todos de
forma decisiva, podendo fazer a diferença entre a vida e a morte. Tivemos tais decisões?
Recusar a política, portanto, é deixar que outros decidam por nós sobre o nosso futuro.
Neste ano eleitoral em São Luís, com um número expressivo de candidatos à prefeitura,
todos são homens. Não temos quaisquer candidatas mulher, pelo que se faz ainda mais
necessário nos questionarmos o motivo dessa ausência. Nós, mulheres, somos a maior
parte da população. Mas somos uma minoria evidente quando pensamos na repartição do
poder.
Não vivemos isoladas. Existir e viver em uma sociedade complexa como a nossa é estar
sujeito a conflitos cuja primeira forma de mediação é política. Espaço privilegiado do
discurso e da ação, se a política fosse um lugar tão ruim, os homens não estariam
disputando tão ferrenhamente para estarem lá.
Embora alguns prefiram acreditar que não, nossos pés estão bem ficados no mundo. Bem
fincados em meio a política das cidades nas quais vivemos e circulamos todos os dias.
Cidades nas quais construímos nossos afetos, nossas memórias, nossas profissões e
nossos sonhos e que por isso mesmo precisa que pausemos nossas ações para refletir.
Por que não há mulheres se candidatando ao cargo de Prefeita em São Luís?
Nossa sociedade incentiva ou desmotiva as mulheres a estarem em lugares de poder?
Que amanhã queremos para nossa cidade e para nós mesmas?
Qual alternativa, das que se colocam, construirá uma cidade mais democrática, com mais inclusão e respeito às questões raciais, à diversidade e às mulheres?
São muitas as questões que não podem ser ignoradas em um um momento como este, de
construção do futuro. Precisamos estar atentas e atentos. Distraídas, apenas seremos
engolidas pelo que virá.
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